A Amazônia (ainda) queima

O fotógrafo Edmar Barros percorreu 2.400 km para cobrir incêndios no Sul do Amazonas em agosto. Durante dez dias, Barros enfrentou estradas de difícil acesso em Lábrea, Manicoré, Tapauá e Humaitá.

A fumaça foi uma personagem constante na jornada, preenchendo os espaços entre lente e paisagem. Em alguns momentos, o fotojornalista se viu obrigado a usar máscara de gás. Tudo o que ele viu virou imagem de uma Amazônia que (ainda) queima.

Dias depois do final da cobertura, Barros recebeu uma ameaça de morte em seu celular. A mensagem dizia que se ele continuasse com seu trabalho na região “queimaria junto com a mata”. As fotos da cobertura estão publicadas a seguir.

1- Queimada e desmatamento de grandes proporções atingem centenas de hectares de floresta próxima à BR-319, no município de Tapauá (AM). As queimadas no estado somam mais de 3330 focos entre janeiro e agosto de 2021.
 

2- Área de floresta em ramal nas margens da BR-230 (Transamazônica) em chamas em Lábrea (AM). O município é o que registra mais focos de queimadas em 2021 no Amazonas.
 

3- Em viagem que passa pelos territórios de Manicoré e Tapauá, Edmar registra um grande foco de queimada ao longo da estrada de terra batida. “É uma viagem muito difícil pelas condições da estrada. Você tem que dirigir com muito cuidado porque acontece muito acidente de choque de veículos por conta da falta de visibilidade, a poeira é muito grande e aí mistura com a fumaça das queimadas”, diz o fotojornalista. Tapauá está entre os dez municípios do Amazonas que mais desmatam.
 

4- Grande quantidade de fumaça de queimadas muda a coloração do pôr do sol em Humaitá (AM), uma das cidades do Amazonas que sofre anualmente com a grande quantidade de desmatamentos e queimadas.
 

5- Área com mais de 400 hectares de árvores queimadas. Barros conta a dificuldade para captar a devastação na floresta. “A gente usa uma máscara de gás para tentar amenizar a quantidade de fumaça. A respiração fica muito pesada. Eu e meu colega Sandro Pereira andamos 4km para ir e voltar para fazer esse registro. De noite você não consegue dormir direito porque fica tossindo. Fazer uma cobertura dessa é sempre muito complicado e perigoso”.
 

6- O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU alerta para os graves e “irreversíveis” impactos do aquecimento globa causado pelos gases de efeito estufa. Alarmantemente, a Amazônia já emite mais CO² do que absorve. Edmar relata que durante os dez dias de viagem não encontrou um único policial ambiental. “Chama atenção que os grileiros e fazendeiros não são da região. Geralmente são pessoas do sul ou sudeste. Eles rodam pela cidade e todo mundo sabe quem são. É uma terra, realmente, sem lei”.
 

7- Dragas de Garimpo ilegal são vistas parcialmente encobertas pela fumaça de queimadas, no Rio Madeira, em frente à orla da cidade de Humaitá (AM). A atividade de garimpo ilegal é frequente em toda a região, o que provoca impactos na contaminação dos rios e na saúde humana.
 

8- Apesar da ausência do Estado em Lábrea, você escuta a propaganda: “Atenção! Você, infrator ambiental, o braço da lei vai te pegar. A operação Samaúma já começou aqui na região. Uma ação integrada entre as forças armadas e os órgãos e entidades de proteção ambiental e de segurança pública para fiscalizar e punir políticas ambientais. Caso você saiba de algum crime ambiental, denuncie pelo zero oitocentos zeros meios um oitenta oitenta. Ibama, Governo Federal, Pátria Amada Brasil.”