Fotógrafo recebe ameaça de morte após documentar queimadas em Lábrea (AM)

uma estrada de terra ao lado de uma floresta fumegante
A intimidação veio dias depois de Edmar Barros denunciar incêndios no sul da Amazônia em agosto

Após cobrir queimadas na cidade de Lábrea, no sul do Amazonas, o fotojornalista Edmar Barros recebeu ameaças de morte em mensagens enviadas por um número desconhecido no telefone. O texto avisa que, caso ele volte ao local, queimará junto com a mata.

Barros e um companheiro percorreram cerca de 2.400 km em dez dias, passando pelos territórios de Manicoré, Tapauá e Humaitá. Ao longo da viagem, a equipe enfrentou estradas estreitas e com pouca visibilidade devido à quantidade de fumaça e poeira. Em alguns momentos da cobertura, o fotógrafo foi obrigado a usar uma máscara de gás pela proximidade ao fogo.

Segundo dados do Programa Queimadas do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Lábrea é o município brasileiro com o maior número de focos de incêndios acumulados nos últimos cinco anos.

Entre janeiro e agosto de 2021, foram identificados 2.129 focos de queimada. Apenas nos últimos cinco dias, foram 262.

Postando uma réplica da ameaça recebida em uma rede social, Barros escreveu: “Quem me ameaçou não deve conhecer minha personalidade e muito menos meu trabalho, se eu tivesse medo de ameaças jamais teria escolhido o fotojornalismo como profissão”.

print da ameaça recebida: se você vier meter seu rabo aqui em Lábrea para denunciar as derrubadas, você vai queimar

Reprodução da ameaçada recebida pelo fotógrafo

A primeira tentativa de registrar um boletim de ocorrência no site da Delegacia Virtual do Amazonas foi recusada sob a justificativa de que Barros deveria se dirigir à delegacia mais próxima para prosseguir com a denúncia. De acordo com a delegada Deborah Barreiros, do 19o Distrito Integrado de Polícia (DIP), que é responsável pelo caso, as investigações só podem continuar após o depoimento da vítima.

O fotógrafo também já entrou em contato com a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), que coordena um programa de auxílio legal para jornalistas ameaçados.

Em nota, Abraji condenou a tentativa de intimidação do fotojornalista e pediu ao governo do Amazonas que garanta a devida investigação dos fatos, assim como condições seguras para o exercício da profissão no Estado.

O fotógrafo, que atua como freelancer para diversas publicações, incluindo a Amazônia Latitude, atribui a esse tipo de cobertura um alto grau de cansaço e perigo. “Ameaças durante as coberturas sempre acontecem infelizmente”, explica, “por mensagem é a primeira vez”.

Os dias que passou na região mostraram a Barros a inexistência de um Estado atuante para fiscalizar e punir crimes. “A gente rodou e não viu um único policial ambiental, um único soldado do exército da operação que o Governo Federal diz que existe”, diz o fotógrafo. “É uma terra realmente sem lei”.

A violência na região não é novidade. Uma investigação de 2019 do Repórter Brasil, financiada pelo Rainforest Journalism Fund em parceria com o Pulitzer Center, observou em Lábrea “um laboratório do crime no meio da Amazônia”.

Longe dos grandes centros e das autoridades, fazendeiros e madeireiros promovem sistematicamente grilagem, extração ilegal de madeira e desmatamento.

Também não é novidade o aumento da violência contra jornalistas nos últimos anos. Segundo relatório da ONG britânica Artigo 19, publicado em julho deste ano, o Brasil despencou 33 pontos no índice mundial de liberdade de expressão em cinco anos, ocupando a posição 86 entre os 161 países avaliados.

Nos últimos anos, diz o relatório, o país passou de uma avaliação de “aberto à liberdade de expressão” para “liberdade de expressão restrita”. Só em 2020, houve 254 violações contra jornalistas e comunicadores.

A equipe da Amazônia Latitude se solidariza com Edmar Barros. Só por meio de uma imprensa que exerça seu escrutínio de forma livre e independente será possível desvelar os interesses envolvidos no desmatamento e na destruição da floresta. Os que ameaçam Edmar querem, com o fogo e violência, esconder suas ilegalidades. Edmar, porém, continua atento.

Foto de destaque feita por Edmar Barros

 
 

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