Amazônia em 5 minutos #09: Mortes de ativistas no Brasil e estreia de ‘Roteiros da Amazônia’

problema ambiental

Chegamos ao nono episódio do podcast semanal Amazônia em Cinco Minutos. Nesta semana, um relatório da Global Witness apontou dados preocupantes sobre assassinatos de defensores de Direitos Humanos. No Brasil, 24 ativistas foram mortos em 2019.

Deste grupo, 10 eram indígenas e nove oriundos de áreas rurais, indicador da manutenção e do agravamento da violência contra o exercício político na sociedade.

Segundo o ativista da Global Witness Ben Leather relatou ao G1, há um aumento comparado com as 20 mortes registradas no ano anterior. Mas ele destaca que esses assassinatos no Brasil representam apenas o ponto mais nítido dos riscos que os ambientalistas enfrentam no País, pois ameaças, fustigamento, criminalização e ataques contra os parentes dos defensores são comuns.

Mas a história que contamos no podcast de hoje possui um tom diferente, de reconhecimento desses movimentos. Remete a 2015, quando o professor Evandro Medeiros, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), ocupou trilhos da mineradora Vale em protesto contra o crime ambiental de Mariana (MG), que ceifou vidas humanas e não humanas. Um episódio ainda pior nos mesmos moldes viria a se repetir alguns anos depois em Brumadinho, também em solo mineiro.

Convivendo com a tensão judicial desde então, o docente afirma que a decisão, tomada em junho, foi um alívio para sua vida e para o direito coletivo de ação política.

“A Vale, quando fez isso, não fez pra me processar simplesmente como profissional e ativista político, mas para criminalizar a luta por direitos das populações impactadas pela mineração na região e no País. Fez para intimidar a coletividade, a rede de apoio e a luta das comunidades por seus direitos frente às violações cometidas”, afirma Medeiros.

Nosso destaque seguinte é sobre a carreirística estreia da coluna ‘Roteiros da Amazônia’, que tem como primeiro personagem Evandro Carreira, senador pelo Amazonas de 1975 a 1983.

Orador pomposo e “criado em barranco”, nas palavras de Jorge Bodanzky, que assina, com seu arquivo, a parceria da coluna com a Amazônia Latitude, Evandro era a Amazônia. Ou assim se dizia, vendo seu papel no mundo como o governador capacitado para desvendar a floresta.

Essa verve performática, quase quixotesca de Carreira, é evidenciada em vários momentos do Terceiro Milênio, filme de 1981 dirigido por Bodanzky e Wolf Gauer que o político protagoniza. A mais notável, segundo o próprio diretor, é quando o então senador compara a Amazônia a uma esfinge, como na mitologia grega.

Falamos sobre a trajetória de Evandro e do início do contato entre político e diretor no texto, publicado na quarta-feira (29).

A dica cultural desta semana é uma releitura de uma grande canção feita por uma grande personagem da música brasileira. Elza Soares completou 90 anos no dia 23 de junho, e deixamos aqui a nossa homenagem à cantora.

O podcast é mais uma frente da missão da Amazônia Latitude: ampliar o debate crítico sobre a floresta e divulgar sua diversidade cultural, sua riqueza natural e seus dilemas. Está disponível no tocador acima, no Deezer, no Apple Podcasts e no Spotify. Para navegar por todos os episódios, clique aqui.

Veja abaixo a transcrição do episódio:

31 de julho de 2020, está começando o nono episódio do “Amazônia em 5 minutos”, o podcast que atualiza você em assuntos importantes no contexto social, ambiental e humano da região. Nesta semana temos como destaque no site da Revista Amazônia Latitude, a estreia de uma coluna produzida em parceria com um diretor importante da cinematografia brasileira. Mas antes de falar mais sobre isso, vamos primeiro às notícias. E depois, no final do programa, temos a dica musical.

Nesta terça-feira, dia 28, o site G1, em matéria assinada por Carolina Dantas, repercutiu um relatório feito pela organização internacional Global Witness que contabiliza o número de assassinatos de ativistas ambientais e defensores dos Direitos Humanos em 2019. Só no Brasil foram 24 mortos, sendo 10 indígenas, 9 de áreas rurais, 2 de familiares ligados a ativistas, 1 servidor público e 2 classificados como ‘outros’. Entre os dez indígenas assassinados, oito viviam na Amazônia. Defensores e Defensoras dos Direitos Humanos, principalmente na região amazônica, são alvos também de tentativas de silenciamento e cerceio ao ativismo ambiental e social.

A nossa revista conversou com o professor Evandro Medeiros, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, a Unifesspa. Ele sofreu dois processos judiciais movidos pela mineradora Vale: um na esfera cível e outro na esfera criminal. A Vale queria a prisão de Medeiros pela participação do professor em um protesto em 2015 contra a empresa. “Como pai de família, profissional, professor de universidade, me alegro com a sentença porque ela traz tranquilidade, e já desde 2015 eu venho respondendo a esses processos judiciais por acusação da Vale, de um crime que não cometi, de ‘ter liderado manifestação para obstruir os trilhos colocando em risco o trem de passageiros e o trem de carga’. E esse processo não foi contra minha pessoa, foi contra a coletividade que se move pedindo justiça pelos crimes ambientais e sociais cometidos em Minas Gerais… Mariana, Brumadinho… que ceifou a vida de centenas de pessoas, que destruiu todo um ecossistema.” No primeiro processo, o professor Evandro Medeiros foi absolvido em segunda instância, por falta de provas. Já a segunda sentença foi proferida em junho, mas ele só soube do resultado no último final de semana.

A revista Amazônia Latitude estreou nesta semana a coluna ‘Roteiros da Amazônia’, produzida em parceria com o diretor de cinema Jorge Bodanzky. A ideia é revisitar o arquivo do cineasta e revelar histórias registradas em 50 anos de trabalho do diretor. Na estreia, conhecemos a história do ex-senador pelo estado do Amazonas, Evandro Carreira, que exerceu mandato entre 1975 e 1983. Jorge Bodanzky nos conta como, no fim dos anos 1970, conheceu o político. “Um dia, bate na porta lá o Evandro, se apresentando com um cartão de visita. ‘Aqui está um senador da República!’, e eu disse ‘certo, em que posso ajudar?’. Na época, o senador presidia a primeira Comissão Parlamentar de Inquérito da Amazônia.

Ele avisou então a Jorge Bodanzky e ao seu parceiro de produções Wolf Gauer, que faria uma visita ao Projeto Jari. O convite acabou rendendo a produção de um documentário: o filme Jari, realizado em 1979. O Projeto Jari consistia numa imensa área de floresta às margens do rio Jari, que foi desmatada para duas estruturas serem construídas: uma para gerar energia e a outra para fabricar celulose, objetivo principal da empreitada de Daniel Ludwig, o bilionário que bancou o projeto. Posteriormente, o senador Carreira, na condição de candidato ao governo do Amazonas, foi protagonista do filme ‘Terceiro Milênio’, de 1981. Este filme acompanha uma visita de barco às bases eleitorais de Evandro Carreira no interior do estado. Mas ele não venceu as eleições.

O filme retrata uma espécie de profeta amazônico, que, de certa maneira, previu muitas das situações que atualmente estão no centro do debate, como militarização e soberania nacional da Amazônia, conflitos sociais, além de decisões políticas e soluções sustentáveis para o meio ambiente. Sobre a personalidade de Evandro Carreira, o diretor Jorge Bodanzky assim o resume: “Ele é a Amazônia. Ele é de lá. Tudo o que ele fala, ele fala da experiência dele, com propriedade. Não é um cara de fora que ‘tá falando. Ele vivenciava aquilo tudo intensamente e ao mesmo tempo estava em Brasília como político, com todas as loucuras, erros e acertos que tem na política”. Numa das falas do filme Terceiro Milênio, a Amazônia é assim definida, na voz do próprio Evandro Carreira:

“É uma nova esfinge, indagando o homem do futuro. Pedindo uma decifração dessa realidade potamográfica que é a Amazônia. Ou tu me inventarias, ou tu me investigas, ou tu me decifras, homem do terceiro milênio, ou eu te devorarei com a devastação, com o deserto e com o inferno que será a futura Amazônia”.

Você está ouvindo a música “Juízo Final”, de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, aquí interpretada por Elza Soares. Elza completou 90 anos de vida no dia 22 de julho, e ativa como é, lançou em junho esta versão rock’n roll de um clássico do samba. E assim, acompanhados pela voz de Elza Soares, agradecemos pela audiência do Amazônia em 5 minutos, uma produção da Amazônia Latitude, com apresentação de Bob Barbosa.

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