Ashaninka do rio Amônia enfrentam Covid-19 e ensinam preservação

Fotos produzidas durante o projeto Oficina de Fotografia Ashaninka, pelos Ashaninka no Alto Juruá, no Acre

Ashaninka, ou Ashenĩka, como este grupo se autodenomina, significa “minha gente”, “meus parentes”, “meu povo”, mas também, a categoria de espíritos bons que habitam “no alto”. Atualmente, essa etnia que fala o Aruak, majoritariamente presente no Peru, apesar de também ter importância demográfica no Brasil, vem sendo ameaçada por madeireiros, caçadores, traficantes e mudanças climáticas.

A maior parte dos Ashaninka que vive hoje no Brasil encontra-se na aldeia Apiwtxa, que fica a aproximadamente 80 quilômetros, por via fluvial, do município de Marechal Thaumaturgo, embora a distância seja menos da metade se traçada uma linha reta. Esta cidade é a única do Acre que tem um indígena como prefeito, Isaac Piyãko, que é ashaninka.

Há registros de relacionamento econômico e cultural entre os Ashaninka e o Império Inca. Inclusive, há bastante similaridades entre seus mitos de criação do mundo e dos homens, como se tivessem sido criadas juntas. Orgulhosos de seus costumes e tradições, defendem e cuidam de seu território com práticas de sustentabilidade socioambiental.

Os Ashaninka da Aldeia Apiwtxa desenvolvem, há anos, importantes iniciativas na defesa de seu território, na preservação de sua cultura e da Floresta Amazônica. Nos anos 1990, abandonaram a pecuária, que vinham desenvolvendo sob influência da cultura ocidental. Ao perceber que o gado ocupava grandes extensões e produzia menos comida do que se o espaço fosse cultivado, substituíram as vacas pela implantação de agrofloresta. Além de render mais, frutas atraem bichos que servem de caça.

Os Ashaninka trabalham em projetos de capacitação e conscientização das comunidades do entorno. Ao replicar sua experiência em outras áreas, demonstram como a floresta pode ser uma alternativa de subsistência para as pessoas. Conscientes da importância dos Povos da Floresta na proteção da biodiversidade do planeta, lideranças Ashaninka já receberam diversos prêmios internacionais, como o Prêmio Equatorial do PNUD (2017) e o de Direitos Humanos da Cidade de Weimar na Alemanha (2013).

Preocupados com a pandemia da Covid-19 e com a ameaça à vida de tantos povos da floresta, os Ashaninka do Rio Amônia criaram a campanha “Ashaninka pelos Povos da Floresta”, em parceria da Associação Apiwtxa com o Instituto Yorenka Tasorentsi.

A campanha visa apoiar as comunidades indígenas e extrativistas do Alto Rio Juruá na luta contra a doença. Por conta do rápido avanço do vírus na região, pretendem arrecadar doações para ajudar os povos da floresta do Alto Juruá em Marechal Thaumaturgo.

Serão distribuídos kits para suprir necessidades básicas imediatas da população da região, bem como para fornecer itens e ferramentas — enxadas, facões e redes — que permitam as atividades produtivas locais. Com a distribuição dos kits, evita-se que as famílias precisem viajar durante o pico de contágio até a sede do município para comprar alimentos e produtos de primeira necessidade.

O apoio à campanha se dá com a divulgação ou com as doações. Acesse ashaninka.fund e saiba como doar. Clique aqui e siga a Apiwtxa no Instagram.

 

1 — Mulheres Ashaninka posam para foto durante oficina de fotografia realizada em 2018 no território Apiwxta. Foto: Bianca Piyãko/Amazônia Latitude

 


2 — Crianças reúnem-se para o lanche na escola Samuel Piyãko, na Aldeia Apiwxta. Foto: Bianca Piyãko/Amazônia Latitude

 


3 — A Aldeia Apiwtxa Ashaninka, criada em 1995, fica no oeste do Acre, na bacia do rio Juruá. Foto: Tore Ashaninka/Amazônia Latitude

 


4 — Kamorishi concentrada enquanto se pinta com a ajuda de um espelho de mão. Foto: Yara Piyãko/Amazônia Latitude

 


5 — Sentada no chão de madeira, jovem desenha a versão feminina do kuzma, roupa tradicional Ashaninka, com tinta feita da areia do rio, de coloração preta. Foto: Yara Piyãko/Amazônia Latitude

 


6 — Detalhe de ornamentos Ashaninka. Foto: Otxi Ashaninka/Amazônia Latitude

 


7 — Entrelaçado de linhas na produção de kuzma masculino. Na comunidade, os indígenas ainda vestem as túnicas descritas pelos viajantes do passado. Homens plantam algodão, mulheres fiam e tecem. Foto: Bianca Piyãko/Amazônia Latitude

 


8 — Imagem destaca flores feitas de penas na cooperativa de artesanato da Apiwtxa. Foto: Bianca Piyãko/Amazônia Latitude

 


9 — A Aldeia Apiwtxa fica à beira do rio Amônia (afluente do rio Juruá), que nasce no Peru e garante, em seu curso brasileiro, condições relativamente favoráveis de navegação. Foto Thokiriyari Piyãko/Amazônia Latitude

 


10 — Kamorishi preparando a fogueira no entardecer da Apiwtxa. Foto: Yara Piyãko/Amazônia Latitude

 


11 — Coletânea de fotos artesanais feitas pelos Ashaninka durante oficina de fotografia na Apiwta, em 2017. Foto: coletiva/Amazônia Latitude

 


12 — Retrato feito com câmera artesanal durante oficina de fotografia realizada em 2017. Foto: Omiriyatsi Ashaninka/Amazônia Latitude

 


13 — Criança assiste a aula na escola Samuel Piyãko. Foto: Piyãko Ashaninka/Amazônia Latitude

 


14 — Crianças aprendem a utilizar câmera durante a oficina de fotografia. Foto: Tairi Piyãko/Amazônia Latitude

 


15 — Jovem se pinta no espelho enquanto é observada por criança na rede. Foto faz parte da oficina de Fotografia Ashaninka, realizada em Setembro de 2018, na aldeia Apiwtxa do Rio Amônia, na região do Alto-Juruá, Acre. Foto: Yara Piyãko/Amazônia Latitude

 


16 — As casas em Apiwxta têm o piso de madeira elevado do chão, cerca de um metro, e são unidades familiares. Distantes umas das outras, são separadas por árvores de forma que um vizinho não enxergue o outro. Foto: Tore Ashaninka/Amazônia Latitude

 


17 — Retrato de perfil de Tore Ashaninka. Os kuzmas masculinos têm listras verticais na trama do tecido, enquanto as femininas possuem o tecido liso, com listras horizontais. Foto: Yara Piyãko/Amazônia Latitude

 


18 — Senhora Ashaninka prepara comida com a ajuda de um pilão. Os hábitos e rituais dos Ashankinka são vivos e remetem a tempos ancestrais. Foto: Piyãko Piyãko/Amazônia Latitude

 


19 — Antônio Piyãko, cacique da Apiwtxa, prepara urucum preto a ser usado em pintura. Foto: Yara Piyãko/Amazônia Latitude

 


20 — Durante a pausa na preparação do roçado, uma foto. Foto: Thokiriyari Piyãko/Amazônia Latitude

 


21 — Família descansa durante preparação do roçado. Foto: Yara Piyãko/Amazônia Latitude

 


22 — Noite de céu estrelado cobre a Aldeia Apiwtxa Ashaninka. Foto: Raine Piyãko/Amazônia Latitude

 

Pedro Kuperman é fotógrafo e designer gráfico, graduado em Comunicação Visual pela PUC Rio. É idealizador do projeto Oficina de Fotografia Ashaninka — trabalho de capactação em fotografia com a comunidade indígena Ashaninka do Rio Amônia, no Acre, em parceria com o Instututo-E e em cooperação com a UNESCO — Representação no Brasil. Ganhador do prêmio FotoRio 2017, expôs em festivais de cinco países, incluindo o Les Rencontres d’Arles, na França, em 2019.
Imagem em destaque é o item 20 desta galeria. Imagens foram produzidas em oficina de fotografia realizada em 2018 na aldeia Apiwxta e cedidas por Pedro Kuperman. Crédito nas fotos. Veja outras galerias clicando aqui.

 

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