Amazônia em 5 minutos #05: desmatamento, pandemia e crianças yanomami

problema ambiental

O programa semanal “Amazônia em Cinco Minutos” chega ao quinto episódio com destaques do desmatamento e sua relação com a pandemia e o caso das crianças yanomami vítimas da Covid-19.

Discutido há semanas, o impacto do novo coronavírus entre populações indígenas tem se mostrado cada vez mais grave em função da descoordenada ação do Estado brasileiro. Um dos exemplos mais recentes é a ida de representantes do Ministério da Saúde e do Exército a Boa Vista, em Roraima, por conta da situação inaceitável imposta a três mulheres Yanomami que perderam os filhos para a doença.

A agência Amazônia Real localizou os túmulos de três bebês Yanomami, todos do sexo masculino, sendo dois do subgrupo Sanöma. As crianças recém-nascidas morreram entre os dias 29 de abril e 25 maio em hospitais públicos de Roraima por Covid-19 ou suspeita da doença.

Para as mães, as crianças estavam desaparecidas. Elas não foram informadas pelas autoridades que os corpos estavam enterrados em sepulturas comuns no único cemitério particular da capital de Roraima.

Vice-coordenador da Coiab, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, Mauro Nicácio condena a ação das autoridades, que impediu o luto ao modo tradicional dos yanomami.

“A situação dos indígenas bebês que foram enterrados, tirados das mães, foi uma exclusão, que não respeitou essa ligação principalmente que as mães tem com as crianças ali na comunidade. Foi muito ruim o que fez o estado brasileiro com relação às crianças yanomami”, disse Nicácio.

E a crise se movimenta em outra frente. No começo de junho, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou dados consolidados do Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), programa que divulga os dados oficiais de desmatamento na Amazônia.

Foram 10 mil km² destruídos, uma alta de 34,2% em comparação com o mesmo período de 2019. Além disso, as multas caíram 50% em meio a uma alta recorde do desmatamento.

A Amazônia precisa de uma economia do conhecimento da natureza — é o que defende o professor Ricardo Abramovay, do programa de Ciência Ambiental da USP. Ele explica que a floresta em pé tem um potencial imenso de ser base para inovações tecnológicas, ampliando oportunidades para que as populações tradicionais possam manter sua cultura e gerar renda por meio de atividades compatíveis com a preservação do ambiente em que vivem.

E, como não pode faltar, a dica musical: a dessa semana é “Floresta do Amazonas”, poema sinfônico para orquestra e voz solista composto em 1958 por Heitor Villa-Lobos. Esta gravação é da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, e você pode encontrá-la no Spotify na íntegra, com os coros na Língua Geral Amazônica, o Nheengatu, e cantos melódicos inspirados em pássaros e sons da floresta.

O podcast é mais uma frente da missão da Amazônia Latitude: ampliar o debate crítico sobre a floresta e divulgar sua diversidade cultural, sua riqueza natural e seus dilemas. Está disponível no tocador acima, no Deezer, no Apple Podcasts e no Spotify. Para navegar por todos os episódios, clique aqui.

Veja abaixo a transcrição do episódio:

Primeira semana de julho de 2020, está começando o quinto episódio do “Amazônia em 5 minutos”, um programa que atualiza você em assuntos importantes no contexto social, ambiental e humano da região.

Quais as relações entre desmatamento, destruição da floresta e a pandemia na Amazônia? Mas antes de refletirmos sobre essas questões, o vice-coordenador da Coiab, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, Mário Nicácio, nos relata o caso dos bebês yanomami que foram vítimas da covid19.

“Recentemente aqui em Roraima teve a situação das crianças indígenas Sanöma, que foram enterradas na cidade, sem mesmo informar a comunidade, as mães, as lideranças indígenas. Tudo isso viola os nossos direitos, a nossa vida milenar dos povos indígenas. Principalmente no ritual que fazemos na despedida de nossos entes queridos”.

Os túmulos dos três bebês Yanomami foram localizados em Boa Vista, capital de Roraima, pela agência de jornalismo Amazônia Real. Os sepultamentos foram feitos sem o conhecimento das mães, que não haviam sido informadas pelas autoridades de que os corpos estavam enterrados no cemitério Campo da Saudade. Segundo a administração do cemitério, só por via judicial é possível retirar os corpos já sepultados, ou aguardar o tempo mínimo para a exumação, que é de dois anos para recém-nascidos.

Em entrevista à jornalista Eliane Brum, do jornal El País, uma das mães disse que queria o corpo do filho de volta à aldeia. O corpo de um quarto bebê, que nasceu prematuro, foi encontrado no Instituto Médico Legal. Os quatro bebês, todos do sexo masculino, eram da etnia Yanomami, sendo dois do subgrupo Sanöma. As crianças, recém-nascidas, morreram entre abril e maio em hospitais de Roraima por Covid-19 ou suspeita da doença.

De acordo com a Portaria Conjunta Nº 1, de 30 de março de 2020, do Conselho Nacional de Justiça, estabeleceu-se no Brasil procedimentos excepcionais para sepultamento e cremação de corpos durante a pandemia. A portaria considera o respeito aos legítimos direitos dos familiares do obituado. Em todo o país, as famílias são comunicadas pelos hospitais sobre a morte dos parentes e os enterros são realizados na presença de poucos familiares. No caso dos indígenas Yanomami, a informação sobre os enterros não tem sido realizada.

“Tudo isso atingiu também essa falta de reconhecimento da tradição, da cultura indígena, é uma tradição que tem uma ligação com a natureza, com a espiritualidade. A situação dos indígenas bebês que foram enterrados, tirados das mães, foi uma exclusão, que não respeitou essa ligação principalmente que as mães tem com as crianças ali na comunidade. Foi muito ruim o que fez o estado brasileiro com relação às crianças yanomami, que precisam ser respeitadas.” Com essas palavras, Mário Nicácio, que é indígena do povo Wapichana, alerta sobre a maneira como povos indígenas tem sido tratados.

Na sequência, os dados atualizados sobre desmatamento e as relações entre pandemia, destruição da floresta e desmonte das políticas ambientais no Brasil.

No começo de junho deste ano de 2020, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, divulgou dados oficiais de desmatamento na Amazônia Brasileira. Foram 10 mil km² destruídos, alta de 34,2% em comparação com o mesmo período de 2019.

Com a chegada da época de seca, os responsáveis pelo desmatamento voltam para ‘finalizar o serviço’ com fogo. Sistemas de saúde mal estruturados poderão sofrer ainda mais pressão com as queimadas, que também deterioram a saúde respiratória das pessoas.

Nem a pandemia foi motivo para interromper a devastação, que foi agravada com o desmonte dos órgãos de fiscalização e com os projetos governamentais que estimulam a grilagem.

Perguntamos se é possível seguir como país enquanto a política ambiental é reduzida a benefícios para invasores e a política indigenista vira doação de cestas básicas.

A Amazônia precisa de uma economia do conhecimento da natureza. É esse justamente o título do relatório publicado e disponibilizado na internet por Ricardo Abramovay. Professor do Programa de Ciência Ambiental da USP, ele explica que a floresta em pé tem um potencial imenso de ser base para inovações tecnológicas, ampliando oportunidades para que as populações tradicionais possam manter sua cultura e gerar renda por meio de atividades compatíveis com a preservação do ambiente em que vivem. Segundo o mesmo relatório, as Unidades de Conservação e, sobretudo as Terras Indígenas, tendem a ser as mais preservadas na Amazônia. Uma vez reconhecida juridicamente uma Terra Indígena, é baixa a expectativa de legalizar sua apropriação indevida por parte de invasores.

Entretanto é preciso superar a atual política de destruição ambiental e voltarmos a ouvir os sons da floresta e da sua gente.

Você está ouvindo “Floresta do Amazonas”, o grandioso poema sinfônico para orquestra e voz solista composto em 1958 por Heitor Villa-Lobos. Esta gravação é da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, e você pode encontrá-la no Spotify, com todas as 21 partes, entre coros na Língua Geral Amazônica, o Nheengatu, e cantos melódicos inspirados em pássaros e sons da floresta. E ficamos por aqui. O programa “Amazônia em 5 minutos” é uma produção da Amazônia Latitude, com apresentação de Bob Barbosa.

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