Conhecida pela movimentação, Santarém emudeceu durante a pandemia

Imagens revelam tensão entre a preocupação sanitária e a necessidade de subsistência da população

No encontro entre os rios Tapajós e Amazonas, a cidade paraense de Santarém é um centro vibrante de pessoas, produtos e sons. O ritmo local, porém, foi interrompido pelo impacto do novo coronavírus.

Dados publicados na terça-feira (23) em boletim da Prefeitura registraram 3.458 casos confirmados de Covid-19 e 200 óbitos. Apesar da emergência sanitária, o prefeito assinou um decreto autorizando o funcionamento de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços.

Na segunda-feira (22) de junho, junto com a flexibilização de restrições para algumas atividades, o município completou 359 anos, uma da cidades mais antigas da Amazônia. A data marca a fundação da então “Aldeia dos Tapajós” pelo Padre João Felipe Bettendorff no ano de 1661, que construiu a primeira capela de Nossa Senhora da Conceição na região.

Mesmo com a comemoração do aniversário ‘oficial’, a partir da fundação portuguesa, há outras versões que são discutidas entre estudiosos do assunto. Até 1981, a data era comemorada em 24 de outubro, quando ocorreu a elevação de Santarém para a categoria de cidade, em 1848, tese considerada por muitos prefeitos como o momento mais adequado para os festejos, já que não havia a comprovação de quando o município havia sido realmente fundado.

É importante ressaltar que tudo começa em uma “aldeia”, no espírito indígena de aldeiar. Em aldeia tudo se inicia e tudo deveria continuar, é onde estão as respostas para problemas ambientais, sociais e de saúde locais: em comunidade, cuidando uns dos outros, em mutualidade. Assim faziam as sociedades que ocupam a região desde pelo menos 11.200 anos atrás, segundo estudos. Os povos indígenas e as comunidades da Aldeia do Tapajós são exemplos desse modo de vida em aldeia. Ensinam no presente a receita de respeito, responsabilidade e luta pela natureza, pela vida e pela cultura santarena. Fica a pergunta sobre celebrar o legado de aldeiar declarado por Bettendorff ao chamar Santarém de “Aldeia do Tapajós”.

Veja nas imagens de Bruno Erlan, feitas em junho, como a Covid-19 mudou a rotina na parte urbana do terceiro município mais populoso do Pará.
1 – Na avenida Tapajós, no bairro Prainha, o Porto do DR, como é conhecido, é um local conhecido pelo intenso movimento de cargas. Bruno Erlan/Amazônia Latitude
2 – Com população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em pouco mais de 304 mil habitantes, Santarém é o terceiro município mais populoso do Pará e o oitavo mais populoso da região Norte. Bruno Erlan/Amazônia Latitude
3 – Movimentado, o centro ficou vazio com o estabelecimento de rodízio de pessoas por CPF. Na foto, uma vista da orla do porto de passageiros. Bruno Erlan/Amazônia Latitude
4 – Em frente à bicentenária Catedral de Nossa Senhora da Conceição, no centro de Santarém, a praça passou do tradicional movimentação para o silêncio. Bruno Erlan/Amazônia Latitude
5 – Na orla do porto de passageiros, apesar da proibição de aglomerações, havia aglomeração de pessoas. Bruno Erlan/Amazônia Latitude
6 – Na orla, mesmo com a probibição de aglomeração e o rodízio de CPF, o comércio funcionava. Bruno Erlan/Amazônia Latitude
7 – Pessoas desembarcam no porto de passageiros. Com 3.458 casos confirmados em 23 de junho, a cidade possui um Hospital de Campanha com capacidade para 120 leitos, sendo 10 de atendimento especializado para indígenas. Bruno Erlan/Amazônia Latitude
8 – O impacto do novo coronavírus no setor de comércio e de comércio informal tem obrigado grandes contingentes da população brasileira a ‘furar’ a quarentena para obter algum tipo de renda. Bruno Erlan/Amazônia Latitude
9 – Mercado dos Peixes na orla, fechado. Em abril, a Prefeitura organizou uma feira e estimou uma oferta de 30 toneladas de pescado para festividades da Semana Santa, com organização de preços e precauções contra a disseminação do novo coronavírus. Bruno Erlan/Amazônia Latitude
10 – Feirantes carregam embarcação na orla do porto de passageiros, na região central de Santarém. Para mitigar os impactos do coronavírus na alimentação de famílias, ONGs se capitanearam a distribuição de doações de cestas básicas, incluindo as destinadas para povos indígenas da região, como os Munduruku. Bruno Erlan/Amazônia Latitude
11 – Mesmo com a proibição de aglomerações, o mercado de peixes continua movimentando o comércio e a alimentação da população na região, que precisa obter alimento em renda, em muitas ocasiões, por meios próprios. Bruno Erlan/Amazônia Latitude
12 – Mercado de peixes continua movimentando o comércio na orla, já que a pesca e os mercados populares são vitais para a obtenção de renda e de alimento. Bruno Erlan/Amazônia Latitude
13 – Embora esteja com funcionamento autorizado por decreto para algumas atividades, a parte urbana de Santarém, no encontro do Tapajós com o Amazonas, ainda está diferente do centro colorido de outros momentos. Bruno Erlan/Amazônia Latitude

Imagem em destaque é o item 11 desta galeria. Crédito das imagens: Bruno Erlan/Amazônia Latitude. Veja outras galerias clicando aqui.

 

Print Friendly, PDF & Email

Você pode gostar...

Assine e mantenha-se atualizado!

Não perca nossas histórias.


Translate »