Amazônia em 5 minutos #02: coronavírus no Vale do Javari e a mobilização local

problema ambiental

Na segunda edição do Amazônia em Cinco Minutos, podcast semanal com os destaques do site e dicas culturais, ouça os destaques do artigo “Coronavírus se espalha e ameaça povos no Vale do Javari”, escrito pelos antropólogos Almério Wadick e Rodrigo Reis. O risco para os territórios no Javari e em outras regiões é grave e cada vez maior, como publicado na imprensa durante a semana.

Como acontece na publicação dos dados de todo o Brasil, os números oficiais da Covid-19 em territórios indígenas parecem cada vez menos confiáveis. Por iniciativa das lideranças, a Coordenação das Organizações dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) anunciou, com informações de 9 de junho, que 76 povos indígenas foram atingidos pela doença, sendo 2.908 casos confirmados e 228 óbitos entre indígenas da Amazônia no Brasil.

A sugestão cultural da vez é o grupo Minhas Raízes, da comunidade Nazaré, que canta a vida e planta sementes às margens do Rio Madeira. O podcast é mais uma frente da missão da Amazônia Latitude: ampliar o debate crítico sobre a floresta e divulgar sua diversidade cultural, sua riqueza natural e seus dilemas. Está disponível no tocador acima e no Spotify. Ouça, compartilhe e, se desejar, apoie nosso projeto.

Leia a transcrição completa abaixo:

Bob: 12 de Junho de 2020, está no ar Amazônia em cinco minutos, para você ficar por dentro de assuntos importantes no contexto social, ambiental e humano da região, e que estão no foco do site Amazônia Latitude e seus perfis nas redes sociais.

E como o programa começa sempre com uma dica musical, a desta semana é o Grupo Minhas Raízes. Fundado em 2005, na comunidade de Nazaré, às margens do Rio Madeira, pelos irmãos compositores Tulio e Timaia Nunes, o Grupo Minhas Raízes tem dois álbuns disponíveis no Spotify. E para pesquisar nas redes sociais digite “Grupo Minhas Raízes”. Essa música aqui se chama “Embaço”. Esse é o Grupo Minhas Raízes, um abraço especial para o integrante Teimar, que entrou em contato com a gente, e outro abraço pra esse povo cantador e tocador do Rio Madeira

E sigamos com as informações que selecionamos pra você ouvinte do Amazônia em 5 minutos. Numa das regiões com o maior número de povos isolados do planeta, situada no sudoeste do estado do Amazonas, próxima à fronteira com o Peru, está a Terra Indígena Vale do Javari. Nessa, que é a segunda maior área indígena do Brasil, vivem cerca de seis mil pessoas dos povos Kanamari, Korubo, Kulina-Pano, Marubo, Matis, Mayoruna, Tsohom-Djapá, além de outros grupos isolados. Conhecedores do impacto de outras doenças, como a cólera no anos 90, as hepatites virais e a malária, os povos indígenas da região, logo no início da disseminação do coronavírus no Brasil, resolveram tomar três medidas.

Por meio da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, a Univaja, elaboraram uma Resolução Conjunta para suspender todas as atividades e reuniões na região, além de criar uma barreira de vigilância epidemiológica. A resolução foi acertada ainda no mês de março, e com participação da Funai, do Distrito Sanitário Especial Indígena e do Conselho Distrital de Saúde Indígena. A Univaja também liderou uma força-tarefa para aquisição de combustível e de gêneros alimentícios, e aluguel de barcos. Na sequência, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, confeccionou duas mil máscaras faciais. Metade foi doada para profissionais de saúde indígena e a outra, para famílias que estavam na cidade de Atalaia do Norte e que precisaram voltar para as aldeias.

Alguns fatores tornam mais crítica a situação do povos do Vale do Javari. São as invasões de garimpeiros, narcotraficantes e organizações religiosas. Enquanto povos indígenas e seus aliados se preocupam com a pandemia, os grupos invasores continuam suas missões predatórias.

Ouça agora, na voz de Manoel Chorimpa, liderança indígena do povo Marubo, um trecho da nota publicada pela Unijava:

“Estamos vivendo um momento de muita angústia por causa dessa pandemia causada pelo coronavírus e trabalhamos sem parar na tentativa de proteger nossas aldeias e nossos jovens que ainda estão na cidade de Atalaia do Norte-AM. É nesse momento tão delicado para nossas famílias e toda a sociedade brasileira que oportunistas criminosos insistem em invadir sorrateiramente nosso território, com a possibilidade de atingir os índios isolados no interior da Terra Indígena Vale do Javari.”

Contíguo a Terra Indígena, o município de Atalaia do Norte está com o contágio em preocupante ascensão. Entre 31 de maio e 03 de junho, o número de casos confirmados saltou de dezesseis para oitenta e nove casos, com dois óbitos. Nessa mesma data foram confirmados quatro casos no interior da Terra Indígena, além de três profissionais da saúde com covid. Em outras regiões da Amazônia, como nos rio Solimões e Negro, profissionais de saúde também acabaram levando involuntariamente a covid para dentro de áreas indígenas.

Mas a culpa não é dos profissionais de saúde, mas da precarização do Subsistema de Saúde Indígena do Sistema Único de Saúde. Por falta de insumos, equipes de saúde têm sido enviadas às áreas indígenas sem serem testadas, e sem equipamentos de proteção suficientes. No caso do agravamento da covid, não há leitos de UTI no Vale do Javari, sendo necessária a remoção, via avião ou barco, de pacientes para Manaus, distante mais de mil quilômetros de Atalaia.

Essas e outras informações você pode acessar em www.amazonialatitude.com lendo o artigo “Coronavírus se espalha e ameaça povos no Vale do Javari.” O texto é de Almério Wadick, antropólogo pela Universidade Federal do Amazonas e que atua junto aos povos indígenas da região desde os anos 80, e também por Rodrigo Reis, mestre em Antropologia que desde 2007 desenvolve atividades de extensão e pesquisa com povos e organizações indígenas do Vale do Javari.

Segundo a Coordenação das Organizações dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira, a Coiab, com dados atualizados em 09 de junho, 76 povos indígenas foram atingidos pela covid, sendo 228 o número de óbitos entre indígenas da Amazônia no Brasil.

Nesta semana, os povos indígenas, por meio de nota publicada pela COIAB responderam ao governo bolsonaro. Abre aspas: “Alertamos que estamos em uma batalha diária para sobreviver, não só ao Covid-19, mas ao desmonte das políticas indigenistas e da demarcação e proteção dos nossos territórios, ao avanço da cobiça às nossas terras e nossas vidas, aos assassinatos de lideranças, às medidas legislativas anti-indígenas do Governo Federal. Depois de resistirmos ao Covid-19, não é essa a “normalidade” do país que aceitaremos!, fecha aspas.”

E ficamos por aqui, ao som da voz de Tailene Martins, vocalista do Grupo Minhas Raízes, que vem plantando sementes de vida nas margens do rio Madeira.

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