Em Manaus, pandemia catalisa dramas de diferentes tempos

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Galeria mostra aglomerações, espaços vazios e os conflitos que a pandemia do coronavírus expõe na capital amazonense

 

A região Norte do Brasil é a mais afetada pela Covid-19. Lugares que já possuíam populações vulneráveis viram o cenário se agravar com a chegada da pandemia. O Amazonas só perde a liderança para o Amapá na taxa de contaminação pelo novo coronavírus. Apesar de não ter o maior número absoluto do país, a proporção de óbitos por habitantes chega a 50,7 mortes por 100 mil habitantes, enquanto a média nacional é de 14,2.

Entre março e maio, o fotojornalista e colaborador da Amazônia Latitude, Edmar Barros, registrou sinais do impacto do vírus, que tem o potencial catastrófico de seguir o fluxo do rio Amazonas e de seus afluentes. E o tamanho do território amazonense, aliado à concentração da sua estrutura hospitalar em Manaus, indica a dificuldade para deslocar os casos graves do interior para a capital. Para se ter uma ideia, há uma UTI aérea para nove municípios do Alto Solimões no estado.

A Covid-19 acentua a desigualdade social na região e revela contradições. O local que mais sofre com a ausência de políticas públicas antes e durante o combate à doença elegeu, com folga, o atual presidente da república. Há anos Jair Bolsonaro vocifera. A voz agora significa ações de grileiros, garimpeiros e desmatadores, como aconteceu no chamado Dia do Fogo.

Junto com as medidas de contenção à pandemia, os amazonenses enfrentam campanhas contrárias à quarentena, estimuladas por grupos de empresários que acreditam em uma economia sem pessoas. Até o momento, o estado registra 51.234 casos e 2.315 óbitos em números oficiais.

Apesar disso, o governador Wilson Lima flexibilizou as medidas de quarentena e acredita que o pior já passou, como disse em entrevista ao canal CNN Brasil na terça-feira (8). Cientistas afirmaram ao G1 no sábado (6) que o estado pode enfrentar um novo colapso do sistema de saúde, ainda pior do que o de abril, quando 96% dos leitos hospitalares foram ocupados.

Já o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, chegou a pedir ajuda, no início de maio, à adolescente ativista Greta Thunberg, que também se envolveu em uma campanha contra a Covid-19 no Amazonas.

Nessa confluência de fatores, Manaus representa uma espécie de síntese com limites borrados. A violência que impacta culturas, povos e territórios é atropelada por uma crise de saúde, e disputas que que se desenrolam em diferentes tempos se sobrepõem.

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1 – No final de março, essa era a vista do oitavo dia de interdição do Complexo Turístico da praia de Ponta Negra. Deserto, um dos principais cartões postais de Manaus revelava o baque da pandemia no turismo. À época, havia apenas 111 casos confirmados e uma morte. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

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2 – #BoraTrabalhar. A manifestação de 27 de março, realizada na orla da Ponta Negra, em Manaus, protestava contra o fechamento do comércio como forma de prevenção contra o coronavírus. Na data, o presidente Jair Bolsonaro participou do evento por meio de uma chamada de vídeo com o superintendente da Zona Franca de Manaus e um dos organizadores da carreata, Alfredo Menezes. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

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3 – A manifestação foi mais um episódio de choque entre o presidente Jair Bolsonaro e governadores. Avesso às medidas de prevenção, Bolsonaro tem instigado a volta ao trabalho e às atividades rotineiras. Medida que reforça sua pecha de genocida. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

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4 – No bairro da Compensa, em Manaus, a multidão em busca do auxílio emergencial fez a fila da agência da Caixa na Avenida Brasil dobrar o quarteirão. Além do desemprego, estima-se que, no Brasil, 5 milhões de trabalhadores informais perderam sua fonte de renda. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

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5 – Policiais circulam pela Avenida Eduardo Ribeiro, em Manaus, que teve estabelecimentos de comércio não essencial fechados, até o final de maio, por decreto estadual contra a pandemia do coronavírus. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

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6 – Nelson Teich, o breve. O ex-ministro, que ficou 29 dias no cargo, visitou Manaus no dia 4 de maio e falou em ‘eficiência e velocidade’ no combate ao novo coronavírus. Saiu antes. O ministério segue comandado interinamente pelo general do Exército Eduardo Pazuello. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

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7 – Wanda Ortega, 32, da etnia Witoto, protesta em frente ao Pronto Socorro Delphina Aziz, centro de atendimento para vítimas da Covid-19 em Manaus, durante a visita do então ministro da saúde Nelson Teich. Na ocasião, o prefeito Arthur Virgílio Neto relembra que Teich prometeu ‘ênfase especial’ contra o novo coronavírus em relação a indígenas. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

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8 – Na Amazônia, a vida corre sobre o rio. Apesar da proibição de viagens de barco para passageiros em todo o estado, o porto da Manaus Moderna seguia movimentado no fim de março. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

9 – Do contêiner frigorífico, o corpo de Francisco da Silva Vale, 59, é removido para o transporte que o levará até o cemitério. Nem todos podem saber o nome dos seus mortos: familiares reclamam da demora na liberação de corpos e da falta de identificação, que pode ocasionar trocas. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

10 – Tragédia. Não há palavras que possam descrever a angústia dos familiares que, sem resposta, sofrem na porta do Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto, em Manaus, e em outras unidades. O desespero para conseguir uma vaga é frequentemente acrescido do luto sem a despedida. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

11 – O pastor Ercilio Canaã, 62, e sua esposa fazem oração em frente ao Hospital Delphina Aziz. A fé e a espiritualidade são meios de lidar com a dura realidade de centenas de mortes diárias que se impõe. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

12 – Em meio ao luto e ao colapso da saúde, o autoritarismo. Aglomerados e sem máscaras, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro posam para fotos e pedem Intervenção Militar e a volta do AI-5. Ato aconteceu em frente ao Comando Militar da Amazônia. Naquele dia, 19 de abril, Manaus registrava 2.055 novos casos de coronavírus. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

13 – Fuzileiros Navais passam por processo de higienização no Hospital e Pronto Socorro João Lúcio, em Manaus, após operação de descontaminação para evitar o avanço da Covid-19. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

14 – A pandemia do novo coronavírus, maior desafio da nossa história recente, tirou de muitas famílias a intimidade do luto. Em 22 de maio, o número de enterros dos 30 dias anteriores havia aumentado cerca de 5 vezes, chegando a 150 por dia. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

15 – Mais do que uma vítima da Covid-19, Aloizo Paulo Vieira, 74, tornou-se um risco. O velório teve a participação de um filho, já que o restante da família foi impedida de viajar e o transporte do corpo foi negado. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

16 – O ritmo acelerado de mortes e o risco de contaminação forçaram a adoção de covas coletivas para vítimas da Covid-19, que estamparam capas pelo mundo. No Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, cada caixão é identificado por uma cruz com o nome da vítima. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

17 – O elevado número de enterros desde o início da pandemia aumentou a jornada de trabalho dos coveiros. Além do ritmo, o trabalho ficou mais exaustivo por causa do uso de robustos equipamentos de proteção individual. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

18 – Apesar da recomendação de quarentena para diminuir o ritmo de contágio e de mortes, trabalhadores informais precisam correr riscos para garantir renda. Na imagem, Cemitério Parque Tarumã, um dos que mais enterra vítimas do novo coronavírus. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

19 – No dia 15 de maio, profissionais de saúde fizeram um protesto no Largo São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas. Até a data, 19 colegas haviam morrido por Covid-19. Na linha de frente, técnicos de enfermagem enfrentam jornadas mais longas, salários menores e insumos insuficientes para seu trabalho. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

20 – ‘Não tenhais medo’. No dia 12 de maio, no Largo São Sebastião, uma síntese. Um homem caminha de máscara e uma pessoa dorme sob um cartaz do Papa e de Cristo. É consenso que o atual modelo socioeconômico responderá à pandemia com mais desigualdade, pobreza e desequilíbrio ambiental. Foto: Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

Imagem em destaque é o item 7 desta galeria. Crédito das imagens: Edmar Barros/Amazônia Latitude. Veja outras galerias clicando aqui.

 

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