O fim que se aproxima

Queimada de grande proporção é vista no início da noite desta terça(3) em ramal da BR 230 na cidade de Lábrea(AM), Lábrea é uma das cidades do Amazonas em estado do emergência, devido as queimadas e desmatamentos, dados do INPE apontam que o mês de agosto teve um aumento de quase 300% nos focos de queimadas na região de Lábrea e outras cidades do sul do Amazonas em relação à agosto de 2018, foram registrados na Amazônia 30.901 focos até 31/08/2019.

O fim que se aproxima

Amazonas : mito grego
menos antigo que os mitos da Amazônia.

Os que vivem no Cosmo há milênios
são perseguidos por mãos de ganância,
olhos ávidos: minério, fogo, serragem, fim.

Quem são vocês,
incendiários desde sempre,
ferozes construtores de ruínas?

Os que queimam, impunes, a morada ancestral,
projetam no céu mapas sombrios:
manchas da floresta calcinada,
cicatrizes de rios que não renascem.

Qual Brasil se esconde atrás da humanidade amazônica?

Que triste pátria delida,
mais armada que amada:
traidora de riquezas e verdades.

Quando tudo for deserto,
o mundo ouvirá rugidos de fantasmas.
E todos vão escutar, numa agonia seca, o eco.

Não existirão mundos, novos ou velhos,
nem passado ou futuro.

No solo de cinzas:
o tempo-espaço vazio.

The end approaches

Amazonas: Greek myth
less ancient than the myths of the Amazon.

Those who have lived in the Cosmos for millennia
are persecuted by the hands of greed,
avid eyes: ore, fire, sawdust, end.

Who are you,
arsonists ever since always
fierce builders of ruins?

Those who burn, unpunished, the ancestral abode,
project bleak maps in the sky:
stains of the burned forest,
scars of rivers that are not reborn

Which Brazil hides behind the Amazonian humanity?

What a sad dissolved homeland,
more armed than enamoured:
traitor of wealth and truths.

When all becomes a desert,
the world will hear roars of ghosts.
And everyone will hear, in dry agony, the echo.

No worlds will exist, new or old,
neither past nor future.

In the ash soil:
the empty time-space.

Translation: Margaret Swallow and Tiago Gambogi

 

 

Milton Assi Hatoum é colaborador da Amazônia Latitude. Ele é considerado um dos grandes escritores vivos do Brasil. Descendente de libaneses, ensinou literatura na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e na Universidade da Califórnia em Berkeley. Escreveu quatro romances, dentre eles Cinzas do Norte – vencedor do Prêmio Portugal Telecom de Literatura e todos os três primeiros ganhadores do Prêmio Jabuti de melhor romance. Também é autor de “A noite da espera” (2017) e “Pontos de fuga” (2019). Seus livros já venderam mais de 200 mil exemplares no Brasil e foram traduzidos em oito países, como a Itália, Estados Unidos, a França e a Espanha. Em suas obras, Hatoum costuma falar de lares desestruturados com uma leve tendência política.

 

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