“Farei com que o manifesto chegue ao Primeiro Ministro”, afirma Zac Goldsmith em encontro com líderes indígenas

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Raoni, Kopenawa e Megaron entregaram Manifesto do Piaraçu ao Ministro do Meio Ambiente britânico e pediram por apoio

LONDRES – Raoni Metuktire, Megaron Txucarramãe e Bepró Metuktire entregaram ontem (5), no Parlamento Britânico, uma cópia do Manifesto do Piaraçu a Zac Goldsmith, ministro do Meio Ambiente da Inglaterra. Os líderes indígenas brasileiros também aproveitaram a ocasião para expor os problemas enfrentados pelos povos indígenas e pela Amazônia em 2019.

“Ele [o presidente Jair Bolsonaro] fala que meu tio Raoni não representa indígena. Muito indígena é a favor dele. Agora tem indígena que quer explorar minério, quer levar garimpeiro pra estragar a terra. A maioria dos indígenas não quer, não gosta. Não quer garimpeiro, não quer mineradora no território”, disse Megaron.

Os líderes indígenas elencaram seis pontos nos quais o governo britânico pode auxiliar na preservação das florestas, de suas terras e culturas.  Entre eles estão a pressão por demarcação das terras indígenas, a implementação de restrições para a compra de soja ilegal e aumentar parcerias com organizações de produtoras e produtores locais da Amazônia, entre outros. Confira a lista completa ao final do texto.

Reação

Após ouvir os pedidos e preocupações dos indígenas, Goldsmith disse que vai conversar com Fred Arruda, embaixador do Brasil na Inglaterra, e pressionar para que reveja todas as ações, não somente em níveis internacionais de comércio, mas também para buscar parceiros locais dentro do Brasil, para que ajudem a mitigar transações que possam afetar os povos indígenas e as florestas.

“Vou resumir essa conversa com o embaixador do Brasil, que está mais do que ciente do que se passa, e pedir novamente por conselhos sobre possibilidades de financiamento e ajuda internacional. Para isso, temos que agir em duas etapas: usar a influência política e pressionar a cadeia de produção”, afirmou Goldsmith.

Também esteve presente na ocasião a ativista Samantha Roddick, representante da Roddick Foundation, organização que promove a justiça socioambiental e a defesa dos direitos humanos ao redor do mundo. Aos presentes, Samantha afirmou que o sucesso da luta indígena é uma vitória para o mundo.

“Eu acredito que aderir a essa questão em particular é uma vitória, porque podemos mostrar que somos igualmente corajosos a Raoni, Megaron e Bepró, que estão na linha de frente. Este ano é um ano crítico no qual a luta pelo clima precisa agir com suas maiores forças”, finalizou a ativista.

 

Ajuda britânica
  1. Pressão pela proteção de territórios indígenas demarcados, impedindo que essas terras sejam invadidas por madeireiros, garimpeiros, e a exploração de petróleo e gás natural nas reservas indígenas. Além disso, há uma crescente limpeza ilegal de terras para a agricultura. Existem também vários projetos de desenvolvimento de linhas ferroviárias e barragens. Atualmente, existe um projeto de lei no Congresso brasileiro para abrir as reservas para essa extração. Há um prazo de dois meses para aprovar ou interromper o projeto de lei, o que terá enormes consequências. As nações indígenas têm protestado contra o processo de consulta deste projeto de lei, que não respeita os processos de tomada de decisão indígena. O governo do Reino Unido precisa urgentemente exercer pressão sobre o governo brasileiro para impedir a aprovação do projeto de lei e respeitar a demarcação de terras indígenas. O comércio é a alavanca para exercer pressão. Quais são os planos do Reino Unido para o Mercosul e os acordos bilaterais de comércio?
  2. Implementar regras comerciais para proibir ou limitar a importação de soja para ração animal. Como o governo Bolsonaro incentiva a produção, enormes áreas de cultivo de soja expandiram-se rapidamente no ano passado. Uma grande parte da produção é ilegal e se encontra em áreas de reservas existentes. Além disso, é utilizada uma quantidade enorme de agrotóxicos – muito acima dos limites europeus. Compromissos voluntários para eliminar a soja do setor privado de ração animal teriam um impacto enorme. As organizações de agricultores do Reino Unido estão incentivando os agricultores a se comprometerem com a alimentação animal sem soja. Para que os compromissos voluntários sejam efetivos, o governo do Reino Unido precisa aplicar tarifas e regras comerciais fortes sobre pesticidas na soja da região amazônica, bem como proibir a soja cultivada ilegalmente em territórios indígenas. Para evitar que isso afete negativamente os agricultores britânicos, o Reino Unido deve subsidiar a produção de alimentos para animais cultivados no Reino Unido.
  3. Trabalhar em parceria com organizações locais na Amazônia – especialmente as organizações de mulheres para aumentar a resiliência das comunidades da floresta. Uma abordagem de resiliência, liderada por organizações locais e pessoas da Amazônia, é uma estratégia de conservação importante e impactante que preserva e restaura diretamente a biodiversidade.
  4. Apoiar o desenvolvimento de cadeias de suprimentos regenerativas para produtos da floresta amazônica – como castanha-do-pará, cacau e cogumelos – para construir a economia florestal. Isso tem um impacto na proteção da floresta, pois esses produtos se tornam economicamente mais valiosos do que as plantações de soja. Esses iniciantes em produtos florestais serão economicamente autossustentáveis ​​a longo prazo, mas precisam iniciar financiamento para desenvolver instalações de processamento e se conectar aos mercados.
  5. Apoiar iniciativas de regeneração de terras na bacia do rio Xingu, Rio Negro e Mata Atlântica que foram queimadas e bacias hidrográficas nos rios que levam à Amazônia. Várias fontes dentro e perto dessas terras estão cheias de contaminação. Iniciativas para apoiar as mulheres que coletam as sementes das árvores da floresta tropical, cultivam mudas e as plantam em bacias hidrográficas (nas margens das plantações de soja) restauram a floresta e evitam a contaminação adicional do rio por pesticidas e glifosato. Por exemplo, através dessa estratégia, o objetivo é restaurar 12.000 hectares de floresta na bacia do rio Xingu.
  6. Apoiar os esforços para evitar incêndios em territórios na zona tampão da reserva. O projeto proposto pelo ISA trabalha nas áreas fora das reservas, uma vez que a área corre o risco de propagação de incêndios devido a condições climáticas mais frias. O projeto se concentra em melhorar as condições das comunidades locais para que elas não precisem invadir as reservas da Amazônia e encontrar novas técnicas para a agricultura que não exijam queima. Eles também compartilham conhecimento de métodos que as comunidades locais podem usar para impedir que os incêndios se espalhem.

 

Imagem em destaque – Raoni, Megaron e Bepró entregam cópia do Manifesto do Piaraçu a Zac Goldsmith, Ministro do Meio Ambiente britânico. Foto: Amazônia Latitude.
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