Crise ambiental é impulsionada por governo, critica pesquisador

Crise ambiental

O aumento em quase 30% de desmatamento na Amazônia Legal, divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na última segunda-feira (18), é fruto de um ambiente de ilegalidade estimulado pelo Governo Federal, afirma o físico Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e pesquisador da Amazônia há 35 anos. Confira a fala de Artaxo abaixo:

“Isso é um valor extremamente elevado. É o maior nos últimos 10 anos e mostra que a destruição da floresta amazônica está crescendo, e está sendo incentivada pelo atual governo que, inclusive, está pregando a liberação de mineração em área indígenas”, criticou Artaxo, que atua na área de mudanças climáticas globais e meio ambiente na Amazônias.

O desmonte dos órgãos de pesquisa e de regulação ambiental, que aumenta a tensão nas áreas florestais suscetíveis de serem invadidas e exploradas, também é um dos fatores que contribuem para o avanço do alarmante quadro de desflorestamento. “Isso está trazendo o ambiente de ilegalidade para a Amazônia, o que é realmente muito preocupante não só pra quem vive nela, mas para todos os brasileiros”, enfatizou o pesquisador.

Segundo dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) do Inpe, a taxa anual de desmatamento aumentou em 29,54% entre agosto de 2018 e julho de 2019, em um comparativo ao período anterior. O número corresponde a 9.762km² de área devastada.

O índice foi obtido por meio de análise de imagens de satélite do Prodes, sistema operacional do programa de Monitoramento da Amazônia por Sensoriamento Remoto do INPE, responsável por contabilizar as áreas que evidenciam estar no final do processo de desmate. Os números ultrapassam em 42% o alerta do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), outro sistema do Inpe – porém de fiscalização diária da região amazônica – que previu um total de 6.833,9 km² de desmatamento para o período.

PEC anuncia abandono às urgências ambientais  

Diante da maior taxa anual de desmatamento da Amazônia Legal em 10 anos, praias do Nordeste invadidas por óleo e instituições de pesquisa com falta de recursos, o Governo Federal segue em direção contrária às urgências ambientais ao propor o fim do Fundo Amazônia, uma das 200 aplicações financeiras listada na PEC dos Fundos para ser utilizada para abater parte da dívida pública.

A proposta do Ministro da Economia, Paulo Guedes, foi entregue ao Senado no início do mês e  prevê a retirada de R$ 1,8 bi destinado à preservação florestal, colocando ainda mais em risco a manutenção da floresta amazônica. 

A proposição, no entanto, vem em momento inoportuno. Entre os estados monitorados pelo Prodes, Roraima mais que triplicou a perda de vegetação nativa com um aumento percentual em 216% em relação a 2018. A devastação foi a maior registrada em 15 anos de levantamento pelo sistema.

Apesar de alarmante, é o Pará quem lidera o índice de desmatamento da Amazônia, chegando a 3.862 km² de área devastada por atividades econômicas ilegais na regiãoJunto ao Mato Grosso, Amazonas e Rondônia, estes quatros estados são responsáveis por 84,13% do desmate.

De acordo com professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura da Amazônia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Gláucio Campos, é fundamental informar a população quanto à realidade da situação da floresta amazônica, mas é de igual importância a proposição de  políticas públicas a partir dos resultados obtidos.

“Se não tem política pública para sustentar o amazônida na zona rural, e se ele for madeireiro, possivelmente a fonte primaria dele será a retirada de madeira. Se o mercado de carbono, de fato, fosse colocado em destaque, essas populações amazônicas não precisariam dessa fonte, porque o crédito que carbono seria muito alto, o valor no mercado seria suficiente pra sustentar a família, em vez de derrubar a floresta. Isto é um exemplo de política pública”, explicou.

Ainda na reflexão de Campos, é preciso questionar a atuação dos órgão de regulação ambiental, mas também compreender a estrutura que envolve o desmatamento, de forma que todos contribuam para a saúde do planeta.

“Estamos aqui falando de redes de interdependência. A madeira do Amazonas some porque existe uma grande rede de consumidores. Se há desmatamento para criar gado, para plantar soja, para extrair madeira, nesse universo muita gente está envolvida. Quem são os consumidores desses produtos? Cabe a cada um ver qual a sua posição nessa grande rede de interdependência. A natureza segue seu rumo sem pedir licença, pode haver extinção de espécie que surgirão outras. O homem é só uma delas”, refletiu.

 

Imagem em destaque – Mapa do desmatamento na Amazônia Legal do Prodes Foto: Reprodução/TerraBrasilis.
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