“O problema ambiental é, antes de mais nada, um problema político”

Árvores no meio de um rio.
Cuyabeno, Equador. Masha Buschujewa/Unsplash
Professor da Universidade de Cardiff, no País de Gales, Antonio Ioris discute a origem da questão ambiental que se coloca para a Amazônia e critica as dicotomias que fazem parte do problema

Está no ar o Latitude Podcast, o podcast da Amazônia Latitude que debate processos históricos, socioculturais e políticos da região amazônica sob as perspectivas da violência lenta imposta aos territórios.

Nesta edição do programa, conversamos com o professor Antonio Ioris, do setor de geografia e planejamento da Universidade de Cardiff, sediada no País de Gales. Ele já trabalhou no setor de recursos hídricos na Escócia, no Peru e em Portugal, além do Brasil e é fundador da rede Agricultures.

Ioris foi uma das lideranças na organização do Seminário Internacional de Ecologia Política, que levou academia e sociedade para uma discussão na tríplice fronteira amazônica e pautou questões da própria manutenção do processo civilizatório ocidental.

Durante a realização do seminário, conversamos com o professor sobre o debate de conservação ambiental, que respondeu enfático.

“Há muitas ideias em torno disso. Mas a principal questão envolvida é que o problema ambiental é, antes de mais nada, um problema político”, disse.

O ambiente não é um tema meramente de gestão ou intervenção direcionada, está relacionado aos processos de desenvolvimento pela história. E um processo que deixou marcas de uma visão de mundo ocidental, excludente, branca e patriarcal.

“O meio ambiente é um mediador dessas relações, que na verdade são relações de poder”, afirma Ioris, que entende o dilema do desenvolvimento econômico e da sustentabilidade como uma dicotomia falsa.

O pesquisador entende que o conceito de green new deal, na esteira do desenvolvimento sustentável, já não está badalado na academia como há vinte anos e que é parte do problema, não da solução.

“Um exemplo disso é o crédito de carbono, e até hoje se fala em mercado de água, sempre trabalhando nessa ideia. Se nós concluímos que o problema central é o desenvolvimento, que é a expansão de processos de produção que trazem essa perversidade da exclusão e da exploraçao social e ambiental, o que essas ideias propõem é trazer a lógica do mercado, a lógica do dinheiro para a solução dos problemas”, diz, e completa:

“É como se trouxesse a raposa pára cuidar das galinhas depois que o galinheiro fosse atacado.”

É por isso que investe em trabalhos de pesquisa sobre as contradições do agronegócio, alardeado como setor produtivo mais desenvolvido no Brasil, mas que não necessariamente implica em desenvolvimento ao redor, além de ser apontado como vetor cada vez mais nocivo à saúde pública.

Ouça a entrevista completa no Latitude Podcast. Você também pode escutar os programas anteriores para se aprofundar nos debates sobre a floresta mais importante do mundo!

Você pode conferir a transcrição na íntegra aqui.

 

Antônio A R Ioris, professor da School of Geography and Planning, Cardiff University, coordenador da Rede Agroculturas  ([email protected])
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