Em entrevista, Luis Bolognesi fala sobre etnocídio, apropriação cultural e cinema ambiental
Apresentamos o primeiro Amazônia Latitude Podcast! Programa no qual debateremos os processos históricos, socioculturais e políticos da região amazônica, buscando examinar o desenvolvimento de uma violência lenta sobre suas culturas e territórios.
Neste programa falamos com Luis Bolognesi, roteirista e diretor de cinema conhecido por seu trabalho em Bicho de Sete Cabeças (2001), Uma história de amor e fúria (2013), a cinebiografia de Ellis (2016), e Bingo: o rei das manhãs (2017).
Em entrevista à Amazônia Latitude, Luis falou sobre Ex-Pajé, documentário que trata do etnocídio praticado contra povos indígenas no Brasil. Na trama do filme, o pajé Perpara Suruí passa a questionar sua fé depois de seu primeiro contato com os brancos, que alegam que sua religião é demoníaca. A missão evangelizadora comandada por um pastor intolerante é questionada quando a morte passa a rondar a aldeia e a sensibilidade do índio em relação aos espíritos da floresta se mostra indispensável.
Assista ao trailer do filme e confira a entrevista com o diretor abaixo:
Como você entrou em contato com a questão do etnocídio, particularmente da tribo Paiter Suruí?
Primeiro, eu estudei antropologia na juventude, e esse tema aparecia muito claramente porque faz parte da história das Américas. O etnocídio é diferente do genocídio. O genocídio é quando uma cultura ataca e destrói a outra cultura matando as pessoas. Já o etnocídio é quando uma cultura ataca e destrói a outra cultura destruindo a base cultural desse outro povo, mas deixando as pessoas vivas. Então você destrói a cultura do outro. E essa foi à história das Américas. A gente teve aqui genocídio e etnocídio. Desde o século XVI, seja na América do Norte e na América do Sul, vários povos foram massacrados e tantos outros têm sido vítimas do etnocídio, que significa que a cultura deles, ou seja, a língua, a religiosidade, a filosófica e o conhecimento científico são destruídos, e os corpos ficam à deriva virando mão de obra barata ou gente que está mendigando nas ruas das nossas cidades.
Eu estudei um pouco na época da faculdade em Ciências Sociais. As faculdades que o presidente da república do Brasil quer acabar, filosofia e ciências sociais , que ele diz que não servem para nada, nos trazem consciência. E parece que essa turma aí não quer saber de consciência, não quer que as pessoas tenham o verdadeiro conhecimento sobre a nossa história. Eu estudei um pouco isso. E, mais ou menos, 20 anos depois da universidade, trabalhando com algumas comunidades indígenas, eu pude conhecer os Paiter Suruí, e ali tive conhecimento de um processo muito violento que está sendo feito hoje em várias tribos no Brasil, que são as igrejas evangélicas entrando nessas aldeias e perseguindo os sacerdotes e os líderes científico e espirituais que são os Pajés. E, quando eu vi esse processo extremamente violento, em Paiter Suruí, de Rondônia, eu decidi me dedicar à esse assunto e decidi fazer esse filme, Ex Pajé.
Você entrou em uma questão que iríamos abordar, que é a evangelização dos povos indígenas. Eu não tinha conhecimento de como esse fato funciona e de que um pajé poderia perder sua autoridade para um pastor. Como você vê essa questão com uma mulher como Damares Alves no Ministério da Mulher, dos Direitos Humanos e da Família? Como isso pode afetar a evangelização dos índios?
A princípio eu preciso dizer que eu não tenho nada contra nenhuma religiosidade nenhum tipo de fé, pelo contrário. Todo respeito. E eu acho que uma característica do Brasil é a diversidade cultural e a diversidade religiosa, e isso é muito saudável. Mas, eu tenho tudo contra quando uma determinada religião e uma determinada igreja tenta destruir as outras e se tornar a única igreja. É o fundamentalismo religioso, que é o que massacra alguns países árabes e que destruiu alguns países ocidentais através de uma violência da igreja católica. Isso é muito ruim. E, é quando uma determinada igreja tenta tomar controle do Estado, que é o que está acontecendo no Brasil. Isso é ruim. Isso é ruim para a diversidade. Isso é ruim para a característica do Brasil que é um povo multiétnico, né? De muitas culturas diferentes, sejam dos povos indígenas, sejam dos povos africanos, sejam dos povos europeus, que se juntaram para construir essa noção de Brasil que a gente tem.
Então quando a gente tem um governo que apoia o objetivo fundamentalista de uma religião, que ataca as outras, que diz que candomblé é coisa do diabo, que diz que as religiões indígenas são coisas do diabo, e passa a perseguir, eu tenho que me colocar contra isso. Como cidadão, como artista, tenho que me colocar denunciando, trazendo reflexão, para a gente entender que isso é muito perigoso e nocivo. Isso vem acontecendo muito fortemente nos templos religiosos dos afrodescendentes que é o candomblé, umbanda, por exemplo, e outras religiões vêm sendo atacadas por pastores evangélicos, inclusive com apedrejamento, inclusive botando fogo em templos religiosos onde tem vários acontecimentos em Minas, São Paulo e Bahia. E o que as pessoas não sabem muito é que isso vem acontecendo também nas aldeias indígenas. Os evangélicos chegam dizendo que vão ajudar – o que é ótimo – trazendo remédios, trazendo presentes e, no segundo momento, eles passam a destruir o pajé, o líder religioso, o sacerdote e líder científico. Porque o pajé tem todo um conhecimento sobre a ciência da floresta que é muito importante para aquele povo. E eles passam a dizer que tudo o que o pajé faz é coisa do diabo e vai virando a comunidade contra os pajés. Isso é terrível! Isso é realmente um ato monstruoso. E é o objeto do filme Ex Pajé. É essa história que a gente filma e põe na frente das câmeras e vê isso acontecendo.
Entrando na questão da perda de autoridade do pajé para o pastor evangélico, que é o mote do filme, ainda vemos que os personagens são apegados à tradição, tanto que falam sua língua nativa. Isso faz com que o filme pareça estrangeiro, por ser uma língua tão estranha para o público brasileiro….
Exato. Ele acaba para nós, homens brancos e tal, sendo um filme estrangeiro em uma certa medida. Na medida em que ele se passa dentro do território Paiter Suruí que ainda mantém muito forte a cultura deles, eles ainda falam a língua deles, eles mantêm as roças da mesma maneira que os antecipados deles mantinham, e estamos falando de uma cultura de quatro mil anos, mais antigo que o cristianismo, ou seja, não é pouca tradição que existe ali. E eles mantêm também a cultura deles de caça. Os povos americanos não criavam gados. A madeira deles de obter proteína animal é caçando, e eles têm todo um conhecimento que é mitológico-científico de modo que eles fazem a caça sem extinguir os animais caçados, seja a tartaruga que eles comem, seja a capivara, a anta, o tatu, macacos, porco do mato, javalis, eles tem métodos de caça em que permitem que os ciclos de vida continuem. Então eles estão há quatro mil anos caçando e não extinguem esse animais, diferente de nós que para nos alimentar botamos uma plantação de soja ou gado e extinguimos todos os tipos de vida que existem naquele lugar. Então esse povo Paiter Suruí tem a cultura muito viva e mantém o universo religioso-mitológico muito vivo. Aí chegam os pastores com presentes, remédios para doenças que eles não conheciam, como, sarampo, catapora, varíola, gripe, etc. E esses pastores chegam dizendo que tudo o que o pajé faz é coisa do diabo. E eles ficam divididos. Eles têm se tornado, em grande parte, evangelizados. Muitos resistem. Muitas tribos resistem. No caso dos Paiter Suruí se tornam evangélicos, mas eles continuam respeitando o pajé de forma escondida. Na medida em que os pastores evangélicos se tornam hegemônicos na região, começa a comandar a vida deles e dizer que os pajés e as coisas que os pajés fazem são do demônio, a gente nota que esses povos indígenas acabam pedindo ajuda dos pajés para buscar as plantas medicinais, para buscar as tradições de cura deles, os cantos, as flautas, quando eles estão no aperto, mas escondida do pastor. Porque o pastor condena esse ato. Então, eles vivem ali uma ambiguidade, uma situação muito complexa. E os pajés vivem uma situação terrível que é uma perseguição muito violenta, no sentido de não receberem remédios, alimentos, ajudas, transportes quando precisam ir para a cidade, porque, hoje, os povos indígenas têm relação com o mundo dos brancos. São muito poucos povos que conseguem viver isolados. E aí nessa conexão os pajés acabam sendo muito prejudicados, são perseguidos, são perseguidos pelos evangélicos das cidades. Então é uma rede muito violenta de destruição de uma cultura.
Outro aspecto cultural que vi nesse filme foi o uso desse povo – que só fala a língua portuguesa para se comunicar com o homem branco – de tecnologias como câmeras fotográficas, smartphones, Facebook, e até armas de fogo, que você já mencionou, preterindo armas tradicionais de povos indígenas. Isso é alguma forma de o indígena se integrar à sociedade ou eles estão cedendo à pressão?
Esse é um debate muito rico que é difícil de esgotar ele aqui, né? Mas nessa troca com os brancos tem o lado do etnocídio em que é quando a cultura deles é destruída, mas tem o lado que é quando eles se apropriarem dos nossos objetos e dos nossos valores culturais que interessam a eles mantendo a cultura deles. Isso é legítimo. Não tem como o indígena que tem contato com a nossa cultura não querer um celular para se comunicar entre eles, para documentar e fotografar um animal que ele caçou, para trocar informação entre eles, inclusive para informar que tem garimpeiro invadindo a terra deles, para poder resistir ao madeireiro que entrou lá dentro ou para se comunicar na cidade, pedir uma ajuda médica quando tem alguém doente. Então há muita coisa do universo branco que eles valorizam e que eles consideram que é positivo para a cultura deles. Então eles querem ter uma moto para poder se deslocar, eles querem ter uma roçadeira elétrica, uma espingarda, uma arma de fogo para poder resistir aos fazendeiros que matam eles, aos madeireiros que matam eles, e também para caçar. Os Paiter Suruí continuam fabricando arcos e flechas, eles fazem arcos e flechas, eles gostam dessa tradição, as crianças indígenas amam brincar com arcos e flechas, mas eles também usam armas para enfrentar madeireiros que invadem as terras deles, né? Terra documentada deles. Terra legitimamente concebida a eles vem sida constantemente invadida por garimpeiros e por madeireiros e, às vezes, eles têm que pegar em armas. 20 a 30 guerreiros se juntam e vão tentar expulsar, na troca de tiros mesmo, madeireiros que estão lá dentro. Então eles acabam utilizando e se apropriando de várias coisas que nós sabemos que não são apenas objetos, mas também conhecimentos. Música, por exemplo. Os jovens indígenas que gostam de ouvir hip-hop e funk. Então quando eles se apropriam dos valores da nossa cultura e colocam isso a serviço da cultura deles parece-nos uma apropriação cultural muito legítima e feliz. Quando a nossa cultura invade destruindo o conhecimento cultural que eles têm de quatro mil anos, aí passa a ser nocivo, porque são culturas que tem muito valor e que tem muita potência. Tanto que são povos que estão vivendo sem bolsa-família, sem ajuda do Estado, sem ajuda de ninguém a quatro mil anos da maneira deles, caçando, plantando, fabricando os próprios remédios e conseguindo viver com uma certa fatura de alimentação, de saúde. Claro quando a gente começa a invadir a terra deles, tacar fogo em tudo, eliminar a caça, jogar mercúrio nos rios deles e levar doenças que eles não tinham e aí esses povos se fragilizam, e aí eles precisam contar com coisas que vem da cultura branca para se defender dessa própria invasão.
Outra coisa da cultura branca muito interessante, que é abordada logo no começo do filme – e agora sabendo que você tem um conhecimento antropológico – a primeira aparição do Perpara é quando o sobrinho dele vem da cidade trazendo uma pesquisa do Cedric (um antropólogo francês) sobre eles. Dois calhamaços de livros escritos em francês, e os personagens olham aquilo e acabam ignorando o estudo. Tendo isso em mente, qual a importância da antropologia para esses povos indígenas? Como ela pode colaborar com a causa dos povos indígenas?
Eu acho que a antropologia é muito importante na defesa dos povos indígenas porque é uma ciência dos brancos que passou a respeitar a diversidade cultural de outras civilizações. É o oposto do fundamentalismo religioso que fala que o outro é o inimigo e quem não é igual deve ser eliminado, que é presente no cristianismo de maneira muito forte e mesmo em parte do islamismo. Uma parcela do islamismo também tem esse olhar de matar e destruir o outro. A priori, só porque não é islâmico, ou só porque não é cristão, é meu inimigo. A antropologia é o oposto disso. É uma ciência dos brancos que diz “aquele que não sou eu merece ser respeitado e agente tem que entendê-lo” e compreender é a melhor maneira de se relacionar, ao invés de destruir. Então, nesse aspecto, a antropologia, nos últimos 150 anos, tem sido uma aliada dos povos indígenas no sentido de procurar entender a maneira em que eles vivem e através daí procurar estabelecer pontes de compreensão entre o mundo branco e o mundo deles. Por outro lado, o que o filme mostra é que, muitas das vezes, a prática antropológica acaba sendo cruel com eles, porque vai lá, estuda, produz conhecimento sobre eles, absorve o conhecimento que eles têm sobre o mundo, transforma isso numa tese, vende os livros, deixa isso na biblioteca da universidade e não dá nenhum retorno para eles, que é o que a gente mostra no filme. Um antropólogo vai lá reúne todo o conhecimento que o nosso personagem pajé tem sobre mitos, sobre lendas, sobre fábulas e produz uma tese em francês – muito bem escrita e muito importante – mas não tem nem a preocupação de traduzir isso para o Português e tornar isso palatável para os próprios Paiter Suruí. Essa maneira da antropologia agir tem sido muito criticada pelos próprios antropólogos. Hoje, quando eu faço um estudo, uma pesquisa para a minha universidade, em contrapartida eu estou deixando para eles, como esse conhecimento pode ser útil para eles. E é importante que os antropólogos façam essa crítica. O filme embute essa crítica, porque é de fato o que aconteceu ali. Tem lá duas mil páginas de conhecimento que foi produzido sobre eles, com eles, e que não se volta para eles porque está em francês. Então o filme traz essa crítica, mas é muito importante esclarecer que é uma crítica a essa conduta dentro de um âmbito muito grande que os próprios povos indígenas têm e que eu, como cineasta, tenho pelos antropólogos e pela importância da antropologia para os povos indígenas.
Vamos entrar em outro mérito agora, falando mais de cinema e cinema ambiental. Uma coisa que percebi em “Ex-Pajé” é que em muitos lugares o filme é descrito como documentário. Vendo o filme, pela estética dele, parece que os personagens, mesmo que eles sejam de fato pertencentes àquela tribo, tem diálogos ensaiados, existe uma certa poesia por trás dos fatos documentados ali. Até que ponto o filme é documental? E até que ponto é um filme mais descomprometido com a linguagem de documentário?
Eu acho que ele fica bem nessa fronteira entre documentário e ficção. Que é uma fronteira que vem sendo quebrada recentemente. Na hora que a gente começa a querer definir o que é documentário e o que é a ficção, a gente percebe que as coisas se embaralham bastante. Porque, muitas das vezes, o documentário é uma construção do diretor que está construído. Então ele não deixa de ser um ponto de vista do contador daquela história. Não existe uma verdade pura. O que existe é um olhar sobre a verdade. E quando a gente encena uma situação, a gente pode estar encenando uma situação que ela é verídica. Então é uma ficção com pé no documentário. E o Ex Pajé, na maneira de ser feito, ele trafega pelos dois territórios. Porque muita cena, a gente filmou quando elas estavam acontecendo, como documentário. Mas, muitas cenas, nós reconstruímos como filme de ficção. Eles nos contaram histórias que já tinham acontecido, como a picada da cobra, e tudo aquilo foi reconstruindo com a colaboração deles, e eles atuando como atores. E reconstruindo para documentário as cenas que já tinham acontecido, mas a gente atuando no dispositivo de um filme de ficção. Realmente o filme é uma fronteira entre documentário e ficção. E o filme participou de alguns festivais como documentário, mas ele foi convidado para festivais de ficção, como, na Armênia. Ele participou em competição em um festival que só tinha filme ficção e ele foi encarado como ficção. Por que, de fato, ele não faz entrevistas. O filme é uma série de acontecimentos. Alguns deles filmados como documentário, outros deles encenados como ficção, mas a serviço de uma narrativa de documentário. Mas as coisas se misturam bastante. E eu gosto que o filme crie essa confusão de territórios de definição o que é documentário e o que é ficção. Os indígenas, às vezes, eles estão ali como personagens de documentário sendo eles mesmos, mas, às vezes, eles estão interpretando uma cena que eles interpretam eles mesmos, mas eles estão vivendo um diálogo que não está acontecendo naquele momento que a gente inventou, reconstruiu, reelaborou coisas que aconteceram semanas antes e eles estão posando para a câmera e atuando como bons atores. Aliás, ótimos atores. Ninguém sabe dizer, quando eu pergunto, o que foi ficcionado, o que foi construído com uma dramaturgia e com interpretação, do que estava acontecendo naturalmente na frente da câmera. Porque eles atuam muito bem. Aliás, os indígenas são atores muito sutis, muito minimalistas e muito versáteis. Eu gosto de trabalhar com eles como atores também.
E a ficção tem um apelo maior com o público, acho que é mais fácil transmitir essa questão a um público com uma linguagem mais ficcional do que documental….
Exatamente. Os filmes de ficção tem muito mais público do que os filmes de documentários. Os festivais de ficção têm muito mais público do que os festivais de documentário. Então transitar pelo território da ficção abre uma conexão maior com o público, sem dúvidas nenhuma.
E agora, falando sobre cinema ambiental, há uma produção de cinema ambiental brasileiro e muitos desses filmes não chegam ao público. “Ex-Pajé”, por exemplo, é um filme dificílimo de se encontrar por aí, e ele levanta questões tão importantes para as políticas indigenistas no Brasil, assim como tantos outros filmes. As pessoas não têm acesso a esse tipo de filme, não se vê eles disponíveis em um serviço de streaming, estão muito fechados em circuitos de festivais. Como você acha que o cinema ambiental, que levanta questões que, talvez, sejam a principal pauta da próxima década, pode chegar a se comunicar com as pessoas? E se ele não chega, porque isso acontece?
Eu acho que a gente tem que pressionar as empresas de streaming que estão se tornando dominantes do mercado de distribuição a ter esses filmes. Porque se as pessoas não tem acesso para poder ver, como elas vão ter acesso ao conteúdo? E você oferece o filme nas empresas de streaming e elas não querem, elas falam que não é entretenimento. E é esse conceito que a gente tem que ampliar. Nós cidadãos e consumidores de produto audiovisual temos que começar exigir das empresas de streaming que elas também forneçam a opção das pessoas poderem ver filmes que buscam a reflexão. Os filmes ambientais, os filmes indígenas, os documentários de reflexão, que não sejam apenas os documentários que tem um impacto mais sensacionalista, que beiram entretenimento por serem mais sensacionalista no seu tema, e aí esses eles disponibilizam. Então como os produtos audiovisuais estão majoritariamente sendo oferecidos por essas empresas de streaming, a gente vai ter que pressionar essas empresas como consumidores para que elas também tenham esse tipo de filme. O Ex – Pajé, por exemplo, a Netflix não quis o filme, apesar de o filme ter sido premiado no Festival de Berlim, que é um dos mais importantes do mundo, ser premiado em Chicago, que é um dos festivais mais importantes dos EUA, ser premiado no festival Tudo é Verdade, que é um dos festivais mais importantes do Brasil, nem assim a Netflix quis o filme dizendo “o filme é muito bom, a gente gosta do filme, mas não é nosso tipo de entretenimento”. Erro. Em minha opinião um grave erro da Netflix. Então, filmes como Piripkura e Beyond Fordlândia deveriam estar nesses canais de streaming, porque as pessoas que já tem conhecimento tem acesso, uma vai falando para a outra. E esse filme, claro que ele não vai ter a visibilidade de um Vingadores, que é entretenimento puro, que vai falar com cinco bilhões de pessoas. A gente vai poder ver esses filmes de reflexão ambiental, de reflexão política e cidadania, que hoje são vistos por 50 mil pessoas, passem a serem vistos por cinco milhões e, daqui a pouco, por 50 milhões. Então a gente vai ampliando quando as pessoas tem acesso. É uma briga política sempre. E uma briga da frente do consumo. E, se a Netflix não tem Ex Pajé, e ele está na Amazon e eu vou comprar Amazon, então daqui a pouco a Netflix vai querer comprar um filme que é menor, disponibilizar um documentário ambiental que é menor, porque ela sabe que tem uma parcela do seu público que está interessado nesse assunto. Eu acho que essa briga vem aí e ela vai ser favorável para o filme político, para o filme ambiental, para o filme de consciência. A tendência, eu acho, é o mundo consumir cada vez mais isso. E esses canais de streaming começar a disponibilizar. É importante dizer que o Ex Pajé está disponível no Now, no Itunes, na Apple Tv e no VivoPlay. Mas, de fato, os canais mais populares ele não está sendo disponibilizado, ainda porque esses canais ainda têm uma visão de entretenimento muito restrita, muito cruel, muito pouco democrática e muito pouca contemporânea. É uma visão que eu tenho certeza que eles vão mudar nos próximos anos.
Ex-Pajé está disponível no Now, Itunes, Apple TV, Vivo Play e Globosat.
Olá. Excelente iniciativa. No entanto, acredito ser primordial apresentar a intrínseca relação entre a criação de gado e o desmatamento, pois este é o principal causador. Deveria está como foco principal.
OLá, Manoel. Obrigado pelos cumprimentos! Estamos cientes dos efeitos devastadores do agronegócio na região amazônica, principalmente quando se trata da monocultura da soja. Abordamos essa questão em diversos textos ao longo de nossas edições, você pode conferir navegando pelo site. Nesse post em específico abordamos o etnocídio de povos indígenas, que veem cada vez mais sua cultura e história ameaçados por uma noção de desenvolvimento imperialista.